quarta-feira, 25 de junho de 2008

Reflexões Universitárias


Nos meus tempos de faculdade, eu e um grupo de amigos, todos com gosto pelas cidades, tínhamos grandes conversas sobre os aspectos da vida social, a dicotomia vida urbana/vida rural, a passagem da solidariedade mecânica para uma solidariedade orgânica (para utilizar a expressão de Durkheim), sobre se na cidade também existiria vida comunitária ou não, etc etc



Certo dia, um elemento do grupo terminou uma dessas conversa propondo-nos a seguinte reflexão:



Será que existiria uma sociedade fundada nas seguintes características:


Uma sociedade onde não se pode ser diferente;


Uma sociedade onde pensar e dizer o que se pensa é crime lesa pátria;


Uma sociedade onde quem pensa é excluído porque faz sombras aos pseudo iluminados;


Uma sociedade que se dá a luxo de prescindir dos melhores;


Uma sociedade de YES MEN;


Uma sociedade que vive de expedientes, de jeitinhos, de cambalhotas, de esquemas, maledicência, envenenamentos sucessivos;


Uma sociedade onde as pessoas adquirem inteligência pelo cargo que ocupam;


Uma sociedade onde a meritocracia não conta, uma sociedade de amigos de compadrios;


Uma sociedade onde o instinto de sobrevivência levará as pessoas a fazerem tudo, a renunciarem a todos os princípios, a entregarem a cabeça dos amigos em salvas de prata, para manterem os lugarezitos, pois só assim os manterão;


Uma sociedade fundada na mentira onde não se possa confiar em praticamente ninguém, a sociedade da desilusão, onde as pessoas nos desiludem a todo o momento;


Uma sociedade onde a competência, seriedade, lealdade, trabalho, nada contam, antes pelo contrário.


Uma sociedade de fachada, de faz de conta, de máscaras, que escondem o que as pessoas são;


Uma sociedade que emprenha pelos ouvidos;
Etc, etc


Tudo isto veio a propósito de uma conversa, que tive, com uma amiga, que me contou algumas coisas que não sabia, nem imaginava.


Gostava de voltar a conversar com esse meu colega de faculdade para saber o resultado da sua própria reflexão...

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Assembleia Municipal aprova moção de censura a Sá Fernandes


A Assembleia Municipal de Lisboa (AML) aprovou hoje uma moção de censura do PSD ao vereador dos Espaços Verdes na Câmara de Lisboa, Sá Fernandes, exortando o presidente da Câmara, António Costa (PS), a retirar-lhe o pelouro.


Em causa está a iniciativa comercial que tem decorrido na Praça das Flores, com o encerramento do espaço ao público a determinadas horas, e que terá como contrapartida a reabilitação do jardim daquele local.


A moção, subscrita pelo deputado municipal social-democrata Vítor Gonçalves, foi aprovada com os votos favoráveis do PSD, em maioria absoluta na AML, e do CDS-PP, as abstenções do PCP e PEV e os votos contra do PS e Bloco de Esquerda.


A aprovação desta moção não tem consequências práticas, já que a AML não tem poderes executivos.


Na moção, Vítor Gonçalves acusou o vereador eleito pelo Bloco de Esquerda de «alugar’ os jardins públicos mais emblemáticos da cidade de Lisboa, privando os cidadãos do seu usufruto».


O deputado municipal do PSD contestou a cedência da Praça das Flores durante 17 dias «guardada com grande aparato policial, a uma marca de automóveis, a Skoda, para esta realizar apresentações do seu novo modelo e várias festas nocturnas, vedando-a a transeuntes, população do bairro, turistas, prejudicando o comércio e incomodando todos os moradores com o barulho das festas, o que provocou um sentimento de revolta pela privatização do espaço público».
Lusa/SOL, 17 Junho de 2008


Comentários do BLASÉ


Tinha feito uma pausa nos escritos do blogue, todavia não podia deixar de comentar esta notícia, até porque são áreas que gosto e que acompanho com interesse pessoal e académico.


Ao ler a referida notícia só me veio à cabeça uma expressão do Dr. Alberto João Jardim: " Tá tudo grosso ou quê".


Apresentar e aprovar uma moção de censura ao vereador dos espaços verdes da CML, exortando ao Presidente de câmara que lhe retire o pelouro, porque o vereador cedeu/alugou, o que lhe quiserem chamar, o jardim da Praça das Flores durante 17 dias à marca de automóveis Skoda para esta realizar apresentações do seu novo modelo e várias festas nocturnas (...) o que provocou no Sr. Deputado Municipal um sentimento de revolta pela privatização do espaço público, é digno de argumento para ganhar o Óscar de melhor comédia do ano.

Por mero acaso, dias antes de se iniciarem as festas e apresentações da Skoda, passei pela praça das flores onde me deparei com aquele aparato de montagem e tive oportunidade de falar com a organização do evento, que me explicou do que se tratava. Confesso que considerei e considero uma excelente ideia.


Convinha que quem apresentou a moção de censura soubesse:

Foram distribuídos convites aos residentes da praça das flores;

Pelo cedência do espaço, graças à Skoda, aquele jardim foi recuperado. Sim senhor deputado aquele jardim, como todos os outros jardins de Lisboa, como se costuma dizer na gíria metem nojo aos cães. É pena que não haja mais Skodas a utilizarem os restantes jardins de Lisboa para assim ficarem recuperados, já que a Câmara Municipal nada faz. Era sobre a degradação dos jardins que se deveria preocupar.

Graças à iniciativa da Skoda, muitos dos residentes podem ter acesso a espectáculos culturais, já que o município não lhes proporciona essa oportunidade, como foi, por exemplo, a noite de fados que decorreu na rua e a que todos poderam assistir;

Quanto aos prejuízos do comércio, confesso que não se percebe como chega a essa brilhante conclusão,umas vez que lá estão mais pessoas, ou seja, mais consumidores, como tive a oportunidade de testemunhar quando lá estive numa das esplanadas a tomar café. Mais consumidores significará mais consumo e não menos...

Mas estas iniciativas contribuem, também, para a divulgação da imagem de Lisboa e para a promoção turística. Na produção dos espectáculos estão vários estrangeiros, como constatei, que se calhar foi a primeira vez que vieram a Lisboa.

Talvez para alguns deputados municipais a promoção turística de Lisboa não seja importante. É que isto implica sair das fronteiras do território, e o que eles gostam é dos assuntos que estão ao seu alcance, das questões locais, questões vicinais.

Estamos perante um conceito de marketing/publicidade utilizado em todos os países, é claro que Lisboa poderá ficar, orgulhosamente só, fora deste nova estratégia de marketing.

Finalmente, tal iniciativa provocou no Senhor Deputado um sentimento de revolta pela privatização do espaço público. Haja paciência.

Privatização do espaço público é aquilo que há muito a autarquia faz e permite, - e onde alguns deputados municipais tem responsabilidades, visto já terem sido vereadores: - CONSTRUÇÃO DE CONDOMÍNIOS FECHADOS, que proliferam como cogumelos, e para os quais não se encontra justificação alguma, e que a sua finalidade, nas palavras de Zygmunt Bauman, não é outra se não "dividir, segregar e excluir, e de modo algum, a de construir pontes, acessos e lugares de encontro que facilitem a comunicação e aproximem os habitantes da cidade."

Senhor Deputado, era bom que se preocupasse com coisas realmente sérias e importentes porque foi para isso que os Lisboetas o elegeram, certo!!!

E mais não escrevo porque não dou aulas de borla!!!

domingo, 15 de junho de 2008

ANIVERSÁRIO



No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,

Eu era feliz e ninguém estava morto.

Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,

E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.



No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,

Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,

De ser inteligente para entre a família,

E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.

Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.

Quando vim a.olhar para a vida, perdera o sentido da vida.



Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,

O que fui de coração e parentesco.

O que fui de serões de meia-província,

O que fui de amarem-me e eu ser menino,

O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...

A que distância!...

(Nem o acho... )

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!



O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,

Pondo grelado nas paredes...

O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),

O que eu sou hoje é terem vendido a casa,

É terem morrido todos,

É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio



No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...

Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!

Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,

Por uma viagem metafísica e carnal,

Com uma dualidade de eu para mim...

Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!



Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...

A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,

O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,

As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . .



Pára, meu coração!

Não penses! Deixa o pensar na cabeça!

Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!

Hoje já não faço anos.

Duro.

Somam-se-me dias.

Serei velho quando o for.

Mais nada.

Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

Álvaro de Campos

PARABÉNS FERNANDO PESSOA


Fernando Pessoa, um dos expoente máximos do modernismo no século XX, considerava-se a si mesmo um «nacionalista místico».

Nasceu, Fernando António Nogueira Pessoa, em Lisboa, no dia 13 de Junho de 1888, filho de Maria Madalena Pinheiro Nogueira e de Joaquim de Seabra Pessoa.

Fernando Pessoa morre a 30 de Novembro de 1935, de uma grave crise hepática induzida por anos de consumo de álcool, no hospital de S. Luís. Uma pequena procissão funerária levou o corpo a enterrar no Cemitério dos Prazeres. Em 1988, por ocasião do centenário do seu nascimento, os seus restos mortais foram transladados para o Mosteiro dos Jerónimos em Belém. Em vida apenas publicou um livro em Português: o poema épico Mensagem, deixando um vasto espólio que ainda hoje não foi completamente analisado e publicado.

COMENTÁRIO DO BLASÉ

Fez, no passado dia 13, 120 anos sobre o nascimento de Fernando Pessoa, considerado a par de Camões, o maior poeta da lingua portuguesa.

O mais universalizado e comentado dos poetas portugueses desde Camões, o mais influente, o mais lido.

Num país normal, que não é o caso deste, o dia seria comemorado com poupa e circuntância. Neste, obscuro e velho armário (usando uma terminologia Queiroziana), foi apenas mais um dia rotineiro que se passou, com umas pequenas manisfestações sobre o maior poeta português.

Felicitar a Casa Fernando Pessoa que, debatendo-se com falta de verbas, (pois que interessa a cultura a este país) fez sem dúvida o que melhor estava ao seu alcance, presentando-nos, inclusivé, com a distribuição de um inédito de Fernando Pessoa no Jornal "O público". Felicitar também Jornal por se ter associado a este evento.

É claro que estas coisas da cultura pelos vistos para este país são uma chatice, e muito mais agora, quando a selecção está em alta, no euro 2008. E o que o Povo quer é bola, bola senhores. Como alguém disse um dia: " O futebol e o ópio do povo", e assim sendo, quem manda dá futebol ao povo, até porque não lhes convém muito que o Povo seja muito culto...

A Câmara de Lisboa lá colocou uma estátua(que há 4 anos estava fechada num qualquer armazém) em frente à casa onde Fernando Pessoa nasceu, para não se dizer que nada fez!

E Fernando Pessoa é o mais universalizado e comentado dos poetas portugueses desde Camões, o mais influente, o mais lido.

Agora imagine-se que não era...

Nada melhor que terminar como uma citação de Fernando Pessoa, que já tinha colocado no blogue, mas que se aplica na perfeição.

"Se fosse preciso usar de uma só palavra para com ela definir o estado presente da mentalidade portuguesa, a palavra seria «provincianismo»
(...)
Para o provincianismo há só uma terapeutica: é saber que ele existe. O provincianismo vive da inconsciência; de nos supormos civilizados quando o não somos
".

Fernando Pessoa, O caso mental Português

quinta-feira, 12 de junho de 2008

TROCA DE SERINGAS NAS PRISÕES


SUSPEITA DE BOICOTE NA TROCA DE SERINGAS NAS CADEIAS.

Jornal de Notícias


Instituto da droga propõe reformulação do programa, nomeadamente com recurso a maquinas automáticas.


O Presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), João Goulão, criticou o modelo que introduziu o regime de troca de seringas nas cadeias e admite que a reformulação do sistema pode passar pela instalação de máquinas.


As dúvidas de João Goulão em relação aos resultados da aplicação do programa de troca de seringas (ainda provisórios, mas que já indicam ter havido uma procura residual por parte dos reclusos) baseiam-se nos facto de não ser possivel acreditar "infelizmente" que não há presos dependentes de drogas injectaveis.


" Como não acredito nessa realidade, só posso pensar que alguma coisa falhou no desenho desse programa ou que foi boicotada a sua aplicação prática", afirmou, ontém na comissão parlamentar de saúde, o presidente do IDT, que admitiu aguardar pela avaliação em curso, cujos resultados serão divulgados no final deste mês. e esse boicote, referiu aos jornalistas, "começou pelos guardas prisionais, ainda antes da aplicação do programa"

(...)

Ana Paula Correia, in JN, 12/06/2008


PRESIDENTE DO IDT ADMITE FALHANÇO DO PROGRAMA DE TROCA DE SERINGAS NAS PRISÕES


Público

O presidente do instituto da droga e toxicodependência (IDT), João Goulão, reconheceu ontém, na Assembleia da República, que o programa de troca de seringas nas prisões falhou. A falta de confiança dos reclusos e o boicote dos guardas prisionais podem estar na origem da fraca adesão ao programa, disse goulão, que espera ainda por um relatório de avaliação.
(...)


Sofia Rodrigues, in Público, 12/06/2008


Comentários do BLASÉ


Realmente este país anda mesmo doido. Eu pensava que ja tinha visto tudo e que já nada me surpreendia, mas afinal ainda há coisas que me surpreendem. Como as declarações do dr. João Goulão ontém na Assembleia da República.


A problemática da troca de seringas em meio prisional levanta um conjunto de interrogações legais, morais e éticas, sobre as quais não nos vamos pronunciar. Apenas pretendemos comentar as declarações do presidente do IDT.


O despacho conjunto nº 72/2006 nomeou o grupo de trabalho que estudou esta problemática e que decidiu a implementação dos programas de troca de seringas em meio prisional(tal qual existem neste momento) apresentando-os como a solução das soluções para a redução de danos dos consuimidores em meio prisional.


Fomos ver quem fazia parte desse grupo de trabalho, e entre outros consta o seguinte nome: João Augusto Castel-Branco Goulão, Presidente do Conselho de Administração do Instituto da Droga e da Toxicodependência.


"O presidente do Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT), João Goulão, criticou o modelo que introduziu o regime de troca de seringas nas cadeias e admite que a reformulação do sistema pode passar pela instalação de máquinas automáticas"


Ainda bem que ele (o Dr. Goulão) fez parte do grupo de trabalho que decidiu a implementação dos programas de troca de seringas em meio prisional, se não imagine-se lá o que ele diria...


Mas o Dr. João Goulão continua sem perceber, ou não quer perceber, porque é que os programas falharam. Então o mais facil e passar a responsabilidade para os outros, neste caso para os Guardas Prisionais, que como ele diz, "boicotaram os programas antes da sua aplicação".


O Dr. Goulão é um homem de dogmas profundos, não acredita na possibilidade de existirem presos não dependentes de drogas injectaveis.


Para ele todos os presos, ou a sua maioria, são uns consumidores desenfreados de drogas injectaveis;


Também não acredita na mudança de paradigma dos consumos, referida em varios relatórios e por varios especialistas na matéria;


E pelos vistos também não acredita que os presos não queriam e não querem seringas nas prisões, como alias ficou bem patente aquando da aprovação da Lei, e que por exemplo, os reclusos de Paços de Ferreira ameaçaram com providências cautelares, e fizeram um abaixo assinado contra a implementação de tais programas.


E em vez de querer sacudir a agua do capote, e passar a pseudo responsabilidade para os Guardas Prisionais, o Dr. Goulão deveria ter admitido ontem, isso sim, que se enganou nos estabelecimentos prisionais que selecionou para a implementação de tais programas.


E mais, escolher O EPL de Lisboa é um escândalo e só desmoraliza quem tem feito um excelente trabalho no combate à toxicodependência nessa prisão, com resultados notaveis. Mas pelos vistos isso não interessa ao Dr. Goulão;


O Dr. Goulão também tem de perceber, de uma vez por todas, que não resulta copiar modelos de outros países, porque estamos a falar de realidades culturais, socias, etc diferentes;


O Dr. Goulão também deveria ter percebido que um dos problemas para este fracasso foi o facto de a discussão desta problemática ter sido ideológica e não científica, e quando assim é, e infelizmente é muitas vezes em Portugal, os resultados são estes...


Já agora, Dr. Goulão, pode-nos eclarecer quanto se gastou, do nosso dinheiro, nesse flop!!! E quanto, mais, tenciona gastar com a possivel reformulação do programa.


Dr. Goulão, é altura de nos deixarmos de romantismos e ideologias nestas questões que tanto sofrimento provocam às pessoas.

FEIRA DO LIVRO


Parabens a APEL por mais uma feira do livro.


Aproveitei este este Domingo e Segunda para la ir, e como sempre, adquirir mais uns livros, que nunca são demais.


Algumas coisas antigas que se descobrem nestas ocasiões, e algumas publicações recentes, de tudo um pouco.


Recomendo vivamente uma visita à Feira do Livro que termina a 15 de Junho.


E não há razão para se dizer que é caro ler, pois encontram-se livros a todos os preços, há livros a 1 euro, por isso só não lê quem não quer.


Uma vez mais Parabéns APEL por mais esta organização. Ja estou a espera da do proximo ano.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Segundo o INE: Fraco investimento fez abrandar economia no primeiro trimestre


O abrandamento do investimento, que passou de 8,8 por cento no último trimestre de 2007 para quase metade (4,4 por cento) no primeiro trimestre do ano, determinou a desaceleração económica entre Janeiro e Março, conclui hoje o Instituto Nacional de Estatística (INE).


As Contas Nacionais relativas ao primeiro trimestre de 2008 confirmam a estimativa rápida do Produto Interno Bruto (PIB) apresentada a 15 de Maio e que apontava para uma desaceleração do crescimento económico para 0,9 por cento, face a período homólogo de 2007.


"Esta desaceleração esteve associada à evolução da procura interna, cujo contributo para o crescimento do PIB foi de 2,4 pontos percentuais no primeiro trimestre de 2008, que compara com 3,2 pontos percentuais no anterior, sobretudo em função do comportamento do investimento", refere o INE. Em cadeia, a economia portuguesa contraiu-se 0,2 por cento.


A procura interna apresentou um aumento de 2,2 por cento no primeiro trimestre de 2008, face aos três por cento do trimestre anterior, o que se traduziu numa diminuição do contributo para o crescimento do PIB.


Dentro da componente investimento, a construção foi o sector mais negativo, com uma redução de 3,9 por cento no primeiro trimestre de 2008, que compara com um aumento de 6,1 por cento nos três meses anteriores.


A construção registou mesmo um contributo negativo, de 0,4 pontos percentuais, para o crescimento do PIB.


Ao contrário, o investimento em material de transporte destacou-se como a componente mais dinâmica, aumentando 33,3 por cento em volume, em termos homólogos. Este comportamento é explicado essencialmente, pelo investimento em "outro material de transporte", como aeronaves, já que a componente de veículos automóveis desacelerou.


Além da tendência de abrandamento do investimento, o INE explica ainda o fraco desempenho da economia portuguesa no primeiro trimestre do ano, com "efeitos de calendário significativos".


O facto de a Páscoa se ter celebrado este ano mais cedo, em Março, introduziu mais três dias úteis no quarto trimestre de 2007 e menos um dia útil no primeiro trimestre de 2008, o que torna as comparações desfavoráveis para o primeiro trimestre.


Estes efeitos de calendário podem ter influenciado as despesas de consumo das famílias, que aceleraram para 1,9 por cento no primeiro trimestre de 2008, face ao último de 2007, quando tinham crescido 1,7 por cento.


O crescimento do consumo privado fez-se essencialmente à custa das despesas em bens de consumo não duradouro (alimentar e corrente) e em serviços, já que as despesas em bens de consumo duradouro, como automóveis, desaceleraram, passando de uma variação de 4,5 por cento no quarto trimestre de 2007 para 3,4 por cento no primeiro trimestre de 2008.


Além da redução do contributo da procura interna, o PIB português sofreu ainda o efeito penalizador da procura externa líquida (que deduz o valor das importações ao das exportações), que se manteve inalterada, mas em níveis negativos.


Tal como já tinha acontecido no trimestre anterior, a procura externa líquida teve um contributo de menos 1,4 pontos percentuais.


O ritmo de crescimento das exportações abrandou, de 5,2 por cento no último trimestre de 2007 para 3,1 por cento no primeiro trimestre de 2008, abaixo das importações, que cresceram 5,6 por cento em volume, entre Janeiro e Março de 2008.


Assim e termos nominais, o saldo da balança de bens e de serviços medido em percentagem do PIB agravou-se, passando de menos 7,9 por cento no quarto trimestre de 2007, para menos 8,6 por cento no primeiro de 2008.


09.06.2008 - 14h44 Lusa


Diz O BLASÉ:


Sr. Ministro da economia, agora é o proprio INE a desmenti-lo.


"Mais cego que um cego é aquele que não quer ver" e esse é o seu caso Sr. Ministro.


O sr. Ministro não quer mesmo ver esta triste realidade que afecta o nosso país. Mas contra factos não há argumentos.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Portugal foi o país mais afectado por deslocalizações de empresas



Estudo

Um em cada quatro postos de trabalho eliminados em Portugal no âmbito de operações de reestruturação diz respeito a deslocalizações de empresas. A taxa é três vezes mais alta em Portugal do que na União Europeia.

Em quatro anos, houve 356 grandes operações de deslocalização na UE.


Portugal foi o país da União Europeia (UE) mais afectado pelo fenómeno das deslocalizações de empresas entre 2003 e 2006. Segundo um estudo da agência europeia Eurofound, 25% dos postos de trabalho destruídos no âmbito de reestruturações resultaram da saída de empresas para outros países, em busca de custos de produção (designadamente salários) mais reduzidos. Cerca de metade destas deslocalizações ocorreram no sector automóvel.

Só a Irlanda registou uma taxa semelhante. Nos restantes países, a percentagem de empregos perdidos em virtude da fuga de empresas é significativamente mais baixa. A taxa média é de 8%, e em países como a Holanda ou a Bélgica chega a ser inferior a 5%.

Estes números, que constam de um relatório publicado a 13 de Maio, foram retirados da base de dados European Restructuring Monitor, que reúne todas as reestruturações empresariais noticiadas na imprensa, de carácter generalista e financeira, envolvendo mais de cem postos de trabalho ou, nas empresas com mais de 250 trabalhadores, 10% da respectiva mão-de-obra. Segundo o relatório da agência da União Europeia, sediada em Dublin, esta é "a única fonte de informação quantitativa sobre as reestruturações e o seu impacto no emprego".

Entre 2003 e 2006, registaram-se 3475 operações de reestruturação de empresas, das quais 356 (10%) dizem respeito a deslocalizações de unidades de produção. A saída destas empresas eliminou quase 200 mil empregos, o que representa apenas 8% dos postos de trabalho destruídos com operações de reestruturação. É isso que leva a Eurofound a afirmar que o impacto do fenómeno da fuga de empresas para países menos de- senvolvidos tem sido sobrevalorizado.

Apesar disso, a Eurofound sublinha que o fenómeno conduz também à eliminação indirecta de empregos, que é dificilmente quantificável. Ou seja, além dos postos de trabalho que são transferidos para outros países menos desenvolvidos e com mão-de-obra mais barata, há muitas empresas que sem deslocarem as suas unidades de produção optam por reduzir salários ou mesmo despedir trabalhadores, de modo a sobreviverem num ambiente de crescente concorrência e pressão sobre os custos salariais. Por outro lado, os números apresentados também não levam em conta os empregos que acabaram por não ser criados na União Europeia, dada esta concorrência internacional.

Ao contrário do que se poderia supor, a deslocalização de unidades fabris e de outros serviços para países onde os custos de produção são mais baixos não tem vindo a aumentar. "Surpreendentemente, não há sinais de uma tendência crescente nas deslocalizações no período de quatro anos analisado", refere o relatório publicado em Maio.

Manuel Esteves, Diário de Notícias

Diz o BLASÉ:


Onde é que está a novidade deste estudo!!!

Qualquer português ja se tinha apercebido disto, excepto os iluminados que supostamente governam este país, e que passam a vida a dizer que o IDE tem aumentado em Portugal.

A Vantagem deste estudo é ser um organismo estrangeiro a desmascarar as mentiras da nossa classe política.

Classe política que também ainda não percebeu, porque não cumpre os mínimos olímpicos, como se poderá resolver o problema.

Talvez um dia voltemos a este assunto, com algumas simples ideias sobre esta problemática, que poderiam ajudar na captação de IDE e por sua vez, na criação de posto de trabalho, e aumento da receita fiscal.

Mas talvez voltemos, tudo dependerá do estado de espírito...

quinta-feira, 5 de junho de 2008

EÇA DE QUEIROZ V


O ministério, o poder executivo, deixou de ser um poder do estado, é uma necessidade do programa constitucional: está no cartaz, é necessário que apareça na cena.


Não governa, não tem ideia, não tem sistema; nada reforma, nada estabelece; está ali, é o que basta. O país verifica todos os dias que alguns correios andam atrás de algumas carruagens – e fica contente.


Eça de Queiroz, in as Farpas