domingo, 14 de dezembro de 2008

Ramalho Ortigão


A República Portuguesa continua dando ao mundo o mais espantoso e inacreditável espectáculo: - existe!
(...)
Evaporada a infantil e burlesca ilusão de que um país pode continuar a viver como vive uma minhoca em postas, uma vez esquartejado nas suas tradições, nas suas crenças, nos seus usos e costumes, na continuidade de sua experiência histórica, governado por um pessoal improvisado pelo favoritismo político, com uma instrução pública de pedantes, uma religião de ateus, uma polícia de sicários, uma maioria parlamentar de ineptos, um ministério de energúmenos, uma burocracia de vagabundos e uma diplomacia de curiosos, da qual só é dado esperar através das chancelarias e dos salões da Europa a mais estercorária pingadeira de gaffe.

Ora a gente tem mais que fazer do que ficar a assistir indefinidamente ao repisamento de uma demonstração feita.

O público está inteirado, e são horas, para que se não extinga de todo a decência nacional, de ir cada um para sua casa tratar honestamente da sua vida.

Façam os governantes outro tanto, e acabem daí com isso por uma vez.

Ramalho Ortigão, in as últimas farpas (1911-1914)

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